Agricultura e energias renováveis
Os sistemas de energia renovável para aplicação na agricultura aplicam-se com especial eficácia na captação de água em furos artesianos, sendo a água proveniente desse furo armazenada em reservatórios, habitualmente colocados em cotas elevadas. Essa água poderá ser usada por exemplo em sistemas de rega, independentemente da sua captação, desde que o sistema esteja convenientemente dimensionado. Caso seja necessária uma captação permanente de água ao longo do ano, o sistema dimensiona-se para o pior mês/dia, tendo-se apenas que conhecer a quantidade a captar por dia para esse mês/dia (em m3). O outro dado que é necessário conhecer, é a altura manométrica da captação (em m).
Estes sistemas são bastante eficientes, permitindo a comutação para um gerador/rede e dispensando o uso de baterias de acumulação (função desempenhada pelo reservatório de acumulação de água).
Especial cuidado tem que se ter no comando de motores de rega. Motores de elevada potência e/ou trifásicos são passíveis de serem comandados por um sistema renovável com recurso a baterias, mas normalmente o seu custo é demasiado elevado, não havendo uma rentabilidade interessante do investimento. Para motores de baixa potência e monofásicos, o sistema terá que ser estudado, sendo que é muito importante o uso de motores com variação de velocidade incorporada, para permitir um dimensionamento do sistema mais rentável e fiável (limitação da corrente de arranque dos motores elétricos).
Autoconsumo de energia fotovoltaica
Abordamos agora um tema que parece estar na moda. Quais os cuidados a ter numa instalação de autoconsumo? Será que se pode pensar numa instalação de autoconsumo como numa instalação de injeção direta de energia na rede? Qual o papel das baterias num sistema de autoconsumo? De facto, num sistema de autoconsumo sem baterias, para se obter alguma rentabilidade do sistema deverá haver uma boa adequação entre produção e consumo.
Como a produção de origem fotovoltaica só existe com radiação solar, para o consumo doméstico torna-se essencial que a habitação consuma nas horas de produção fotovoltaica de forma a limitar o desperdício do potencial de produção do sistema. Para evitar eventuais situações de excesso de produção, poderão instalar-se baterias convenientemente dimensionadas por forma a armazenar-se a energia produzida com o objectivo de a libertar quando não houver Sol e existir consumo. Estas baterias poderão também servir de sistema de backup (UPS), no caso de falhas de energia da rede e servir para amenizar picos de potência, podendo possibilitar uma diminuição da potência contratada com o fornecedor de eletricidade da rede.
Como se depreende do texto, em edifícios de serviços/indústria, o autoconsumo poderá ser uma solução, visto que existe uma coincidência entre o consumo e a produção, evitando-se assim o recurso a baterias. Um elemento sempre dispendioso numa instalação fotovoltaica. Neste tipo de edifícios, especial atenção deverá ser dada aos fins de semana / feriados e à hora de almoço, caso não haja utilização de eletricidade nesses períodos.
A “remuneração” de um sistema de autoconsumo deverá ser calculada através do preço do consumo evitado, dependendo do tarifário do período horário em causa.
Manutenção DE SISTEMAS FOTOVOLTAICOS
Um sistema de produção fotovoltaica não precisa de muita manutenção. Se estiver localizado num clima com muito pó e pouca chuva, os módulos terão que ser limpos periodicamente com água limpa. Num ano normal em termos de pluviosidade e para um telhado com inclinações abaixo de 20º, é necessário usar uma mangueira para limpar os módulos, pelo menos 2 vezes por ano, coincidindo com a mudança de estação. Usar para o efeito água pura e pressões baixas, sem nunca esfregar. Fazer a limpeza com os módulos frios ou seja logo de manhã ou ao entardecer/anoitecer, por forma a evitar choques térmicos. Se a inclinação for superior a 20º a água da chuva deverá ser suficiente para o efeito. No entanto será sempre necessário monitorizar até porque os dejetos de aves dificilmente são removidos com a água da chuva.
Pelo menos uma vez por ano deve-se fazer uma inspeção física, para se detetar possíveis pontos de deterioração do cabo solar e respetivos conectores, assim como possíveis danos visíveis nos módulos. As caixas de junção também deverão ser inspecionadas (sempre que acessíveis), no que concerne à sua proteção em relação às condições meteorológicas (caixas com grau de proteção IP65). Deve-se também verificar se as ligações elétricas estão bem ajustadas e sem sinais de oxidação. Dar particular atenção aos pontos de ligação à Terra do sistema, quer dos módulos fotovoltaicos, quer das respetivas estruturas de fixação. Se estas forem galvanizadas, inspecioná-las de forma a detetar possíveis pontos de oxidação. Tratar conveniente os pontos oxidados. Nos terminais de ligação à Terra é conveniente aplicar uma massa anti-corrosiva, tipo massa neutra.
Os inversores fotovoltaicos deverão ser inspecionados cada 2 meses, a respeito de danos visíveis. Comprovar sempre o funcionamento normal do inversor, controlando também a produção deste por forma a se poder detetar possíveis problemas no sistema. Dependendo do inversor poderá ser necessária uma limpeza da ventoinha e da parte superior do aparelho, usando-se um aspirador, um pincel suave ou uma escova macia. Os displays/leds poderão ser limpos com um pano seco, nunca com solventes ou produtos abrasivos!
Sabe quanto deveria produzir o seu sistema fotovoltaico?
Possui alguma simulação de produção fotovoltaica e já alguma vez se questionou sobre a sua fiabilidade? Será que são consideradas as perdas por resistência (ohmicas) do cabos AC e DC e as perdas para o solo? Será que a base de dados meteorológica usada na simulação é a mais correta para o local de instalação dos módulos? Existem sombreamentos significativos? O software é garantidamente fiável? Para verificar esta fiabilidade deverá verificar a sua produção fotovoltaica mensal em kWh e compará-la com a simulação de produção de energia que possui para o mesmo mês. Para que se tenha uma noção, num sistema de 3,68 kW, em Lisboa, com 18 módulos de 250 Wp policristalinos, num total de potência instalada de 4.500 Wp, em telhado e sem sombreamentos significativos, é expectável uma produção anual a rondar os 6.850 kWh/ano sendo que em julho o sistema poderá aproximar-se de uma produção mensal de 800 kWh (26 kWh/dia em média). Em dezembro o valor pode baixar para os 320 kWh (menos 60%). O mesmo sistema, nas mesmas circunstâncias, produzirá apenas 6.270 kWh (280kWh em dezembro e 750 kWh em agosto) em Braga. Releva-se que estamos a referir valores médios sendo que, com toda a certeza, haverá anos/meses de melhor produção e anos/meses de pior produção, dependendo das condições meteorológicas particulares de um determinado período. Ter sentido crítico em relação à sua produção fotovoltaica poderá levá-lo a detetar possíveis problemas (por exemplo, sombreamentos ou problemas de ligações), ou fazê-lo questionar-se sobre a fiabilidade da simulação de produção...